Situação do INSS é preocupante e beneficiários ficam apreensivos

A fila de análise de benefícios previdenciários voltou a crescer e atingiu a marca de 2 milhões de pedidos represados no final de 2024, segundo dados divulgados pelo próprio Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A situação reacende o debate sobre a falta de investimentos públicos e as deficiências operacionais que há anos comprometem o atendimento à população.

O problema, que se arrasta há décadas, ganhou destaque recente na imprensa. Em reportagem exibida na GloboNews, o jornalista César Tralli destacou que o número atual representa um aumento de meio milhão de solicitações em relação ao ano anterior.

Segundo ele, “é uma realidade que se perpetua sem solução. As pessoas esperam, muitas vezes, em vão. O atendimento não acompanha a demanda, o que leva a um sentimento de desrespeito e abandono”.

Tralli também chamou atenção para a urgência de modernizar a infraestrutura do INSS e ampliar a capacidade de resposta da instituição: “Não é admissível que em pleno 2025 o órgão responsável por garantir direitos fundamentais continue operando com tecnologia ultrapassada e um número reduzido de funcionários”.

Falta de concurso e sistemas inoperantes agravam cenário

O diagnóstico é compartilhado por entidades sindicais. Para o diretor da Fenasps, Daniel Emmanuel, o colapso no atendimento é reflexo direto da ausência de concursos públicos, da obsolescência dos sistemas digitais e da redução do atendimento presencial.

Ele ressalta que há um déficit superior a 20 mil servidores e que os sistemas operacionais do INSS passam até um terço do tempo fora do ar.

“O empobrecimento do atendimento nas agências, especialmente para os idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade digital, tem sido um dos efeitos mais perversos dessa transformação forçada em direção ao digital, sem o devido suporte”, afirmou Emmanuel.

Segundo ele, é fundamental garantir investimento em equipamentos, sistemas e pessoal, além de assegurar que os canais digitais sejam complementares, e não substitutos, do atendimento humano.

‘Mutirões’ e IA não são solução definitiva, dizem sindicatos

O Ministério da Previdência informou que ações como mutirões de análise e a convocação de concursados estão em curso para tentar reduzir o estoque de pedidos. No entanto, dirigentes sindicais alertam que essas medidas são paliativas.

O diretor do Sindsprev/RJ, Paulo Américo, avalia que o governo tem adotado uma política de desmonte estrutural do INSS, favorecendo a terceirização do serviço público e dificultando o acesso à previdência social universal. Ele também criticou a aposta crescente em inteligência artificial (IA) para análise de requerimentos.

“A IA pode até ajudar em etapas do processo, mas não pode substituir o trabalho técnico de um servidor capacitado. Estamos vendo um número crescente de indeferimentos automáticos que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), correspondem a cerca de 15% de todos os pedidos negados sem análise de mérito, gerando retrabalho e frustração para os segurados”, pontuou.

Previsão é de agravamento nos próximos meses

De acordo com estimativas do próprio INSS, quase metade do atual quadro de servidores já reúne condições para se aposentar, o que pode tornar o cenário ainda mais crítico em breve.

Para o diretor do sindicato, Vinicius Lopes, a falta de novos concursos compromete seriamente a capacidade de recuperação do órgão.

“A fila de espera é, acima de tudo, resultado da falta de servidores. E não há tecnologia que corrija isso. O que temos visto é uma tentativa de empurrar soluções simplistas, que não enfrentam as causas reais do problema”, argumentou.

Gestão ineficiente e abandono da política de valorização

A diretora da Fenasps, Thaize Antunes, afirma que o crescimento da fila é sintoma de uma gestão que falhou em priorizar a eficiência administrativa e a valorização dos profissionais que atuam no INSS.

Segundo ela, o quadro de pessoal está defasado em mais de 40%, os sistemas são lentos e instáveis, e as agências sofrem com falta de equipamentos básicos.

“O resultado é uma população que espera meses – às vezes anos – para ter acesso a um direito constitucional. Enquanto isso, o governo insiste em medidas que não atacam o cerne da questão”, concluiu.

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