Nova matéria deverá ser incluída na grade curricular de alunos no Brasil
O avanço da inteligência artificial (IA) já influencia o cotidiano de milhões de brasileiros — seja em sistemas de recomendação, assistentes virtuais ou automações invisíveis em diversos serviços.
Apesar disso, grande parte da população ainda não compreende como essa tecnologia funciona, o que reforça um alerta: sem a devida inserção nos ambientes escolares, o domínio da IA tende a se concentrar em poucos grupos, aprofundando a desigualdade educacional no país.
Em artigo publicado no portal The Conversation, os pesquisadores Marcus Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Renato Cordeiro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), defendem que o ensino sobre IA seja ampliado de forma estruturada no sistema público de ensino.
A proposta é garantir que os alunos não apenas utilizem as ferramentas, mas compreendam sua lógica e estejam aptos a atuar criticamente frente às novas demandas tecnológicas.
Inclusão da IA na escola exige estrutura e formação docente
Segundo os autores, adotar a IA nas salas de aula depende de um conjunto de condições básicas: acesso estável à energia elétrica, à internet de qualidade e à infraestrutura tecnológica.
Além disso, eles reforçam a importância de formar professores preparados para lidar com as ferramentas, respeitando as particularidades das escolas brasileiras — desde instituições urbanas com classes lotadas até unidades rurais com recursos limitados.
Outro ponto central é a necessidade de flexibilizar o currículo escolar, permitindo que cada rede de ensino incorpore o conteúdo tecnológico conforme suas possibilidades.
A ideia é que a IA não seja um “conteúdo extra” isolado, mas sim uma linguagem transversal aplicada ao contexto pedagógico.
Preparação crítica e ética para o futuro digital
Para além do uso técnico, os especialistas alertam que o contato com a IA desde a escola deve promover reflexões éticas e sociais.
Ferramentas automatizadas podem reforçar vieses discriminatórios, disseminar desinformação ou ser usadas de maneira irresponsável, como já visto na criação e propagação de fake news.
Por isso, a presença da IA no currículo é também uma oportunidade para construir uma cultura de uso consciente, focada em ética, privacidade e cidadania digital.
Educação tecnológica como política pública
Países como Reino Unido, Coreia do Sul e Finlândia já adotaram políticas nacionais para incluir a IA nas escolas. No Brasil, o debate ainda é incipiente e enfrenta o desafio da desigualdade estrutural.
Para os autores, sem um plano nacional claro, com políticas públicas consistentes e investimentos estratégicos, o Brasil corre o risco de ver uma nova onda de exclusão digital, agora impulsionada pela inteligência artificial.
O objetivo, concluem os especialistas, deve ser garantir que todos os estudantes saiam do ensino médio com uma compreensão básica da IA, incluindo seus usos, limitações e impactos sociais. Só assim será possível formar uma geração capaz de atuar com autonomia no mundo digital.