Mamografia muda no Brasil e será aperfeiçoada

Um estudo clínico de grande escala realizado no Reino Unido trouxe novas evidências sobre a importância de técnicas de rastreamento mais sensíveis para mulheres com mamas densas.

A pesquisa concluiu que a mamografia com contraste à base de iodo é significativamente mais eficaz do que métodos tradicionais, como ultrassom, na detecção de cânceres invasivos.

Entenda o que muda no rastreamento

Mulheres com tecido mamário denso enfrentam um desafio específico: o tecido pode mascarar a presença de tumores em mamografias convencionais, reduzindo a eficácia do rastreamento.

Nesse contexto, o novo estudo avaliou comparativamente diferentes tipos de exames e observou que a mamografia com contraste identificou três vezes mais cânceres invasivos do que o ultrassom.

Além disso, o exame com contraste se mostrou mais eficaz na detecção de tumores pequenos e ainda não espalhados para os gânglios linfáticos — um dado importante para o diagnóstico precoce e o aumento nas chances de cura.

Comparações e impactos

A pesquisa analisou mais de 9 mil mulheres entre 50 e 70 anos com mamas densas e sem alterações nas mamografias regulares. Os exames comparados incluíram ressonância magnética, ultrassonografia, mamografia digital padrão e mamografia com contraste. Os resultados apontam que, enquanto o ultrassom detectou 4,2 cânceres invasivos a cada 1.000 exames, a mamografia com contraste detectou 15,7. A ressonância magnética teve resultado semelhante, com 15 casos detectados por 1.000 exames.

Apesar da eficácia da ressonância, seu alto custo e a disponibilidade restrita limitam o uso no rastreamento de rotina. Já a mamografia com contraste, segundo especialistas, pode ser mais acessível e implementada com mais facilidade nos centros já existentes.

Especialistas pedem mudança no protocolo

A autora principal do estudo, Fiona J. Gilbert, professora de radiologia na Universidade de Cambridge, defende a adoção do exame com contraste como padrão para mulheres com risco elevado e mamas densas. “Os tumores absorvem o iodo e se destacam nas imagens, facilitando a detecção precoce”, explicou.

JoAnn Pushkin, diretora do grupo DenseBreast-info, destacou que identificar o câncer ainda em estágio inicial representa “tragédias evitadas”. Ela reforça que, embora o contraste possa causar reações adversas em casos raros, os benefícios superam os riscos.

Limitações e perspectivas

O uso da mamografia com contraste ainda não foi autorizado pelo FDA (agência reguladora dos EUA) para rastreamento de rotina, sendo aplicada hoje principalmente como ferramenta diagnóstica após achados suspeitos. A pesquisa também aponta que exames mais sensíveis podem elevar o risco de sobrediagnóstico e tratamentos desnecessários, o que exige avaliação cuidadosa caso a caso.

O estudo não acompanhou as pacientes por tempo suficiente para afirmar se a nova técnica reduz a mortalidade por câncer de mama, mas indicou que tumores menores e detectados precocemente tendem a ter melhor prognóstico.

Um exemplo disso é o caso de Louise Duffield, 60 anos, que teve um tumor detectado apenas após participar do estudo. O câncer estava em estágio inicial e foi removido por cirurgia. “Sem essa pesquisa, talvez o tumor passasse despercebido por anos”, afirmou em depoimento.

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