Golpe aplicado por funcionário da Claro é extremamente perigoso
A Polícia Civil de Santa Catarina investiga um caso envolvendo um ex-funcionário de uma loja autorizada da Claro em Joinville (SC), acusado de utilizar indevidamente a biometria facial de pelo menos 80 clientes da operadora para abrir contas em bancos digitais e solicitar empréstimos fraudulentos.
Operação revela esquema de fraude com uso de imagens dos clientes
A investigação, batizada de Operação Fakemetria, identificou que o suspeito atuava no setor de atendimento da loja e solicitava fotos dos consumidores durante a contratação de serviços, como a ativação de novas linhas telefônicas.
As imagens, supostamente coletadas para procedimentos rotineiros da empresa, eram usadas posteriormente para registrar os clientes em plataformas financeiras online, sem o conhecimento deles.
Segundo a polícia, em alguns casos, o funcionário alegava problemas técnicos na conexão para capturar as imagens com o próprio celular — já configurado com os aplicativos de bancos digitais.
O sistema da operadora permitia ao suspeito verificar quais clientes tinham bom histórico de crédito, o que facilitava a liberação de microcréditos. Os valores desviados giravam em torno de R$ 4 mil por vítima, de acordo com as autoridades.
Golpes exploram falhas de segurança em bancos digitais
A fragilidade de alguns sistemas bancários online foi um dos fatores que viabilizou o esquema. Bancos como Afinz, Will Bank e Digio foram mencionados na investigação. Em nota, o Afinz afirmou que não houve prejuízo aos seus clientes e que foi indenizado integralmente.
O Will Bank destacou que realiza investimentos contínuos em segurança digital e reforçou a importância de os usuários não compartilharem dados pessoais fora dos canais oficiais. O Digio, até o momento, não respondeu aos questionamentos da imprensa.
Suspeito deixou a cidade antes da operação
O funcionário suspeito já havia deixado o emprego e saído de Joinville antes do início da operação, deflagrada em 7 de abril. Até agora, ninguém foi preso.
A Claro, segundo a Polícia Civil, não tinha conhecimento da fraude praticada dentro da loja autorizada. A operadora foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou.
Como se proteger contra fraudes com reconhecimento facial
Especialistas recomendam atenção durante a coleta de dados biométricos em estabelecimentos comerciais.
É possível identificar situações suspeitas, como a exigência de múltiplas fotos, poses diferentes ou uso de fundos neutros (como branco), o que pode indicar a intenção de uso fora dos protocolos padrões.
Outro ponto de alerta é o equipamento usado: a coleta de biometria deve ocorrer apenas em dispositivos da loja, geralmente tablets específicos. Se o funcionário utilizar celular pessoal, é motivo para desconfiança.
Os consumidores também podem consultar o Registrato, serviço gratuito do Banco Central que mostra contas e operações financeiras atreladas ao CPF. Caso identifiquem movimentações estranhas, é possível contestar junto às instituições responsáveis.
Legislação e regulação ainda em desenvolvimento
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica a biometria facial como dado sensível e estabelece diretrizes para seu uso em ambientes digitais.
Apesar disso, o uso indiscriminado ainda ocorre. Para o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o fornecimento de imagem facial não deve ser obrigatório para a prestação de serviços comuns, especialmente diante dos riscos de fraudes.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) informou que está elaborando normas específicas para a regulamentação do uso de biometria facial, com previsão de publicação até dezembro de 2025. A entidade reforça seu compromisso com a proteção da privacidade dos cidadãos e afirma estar em diálogo com o setor público e a sociedade civil.