Brasileiros em outro país revelam consequências de jornada de trabalho menor
A jornada de trabalho mais curta, adotada em larga escala na Islândia, tem transformado a vida dos trabalhadores no país. Alguns deles descrevem a experiência como um verdadeiro alívio. Seu dia de trabalho começa por volta das 9h30 e, às 16h30, o trabalho já está concluído, destacando assim a sensação de equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Na Islândia, grande parte da população trabalha, no máximo, 36 horas por semana. Esse regime é resultado de negociações coletivas entre sindicatos e empregadores e oferece flexibilidade na distribuição das horas. Os trabalhadores podem, por exemplo, optar por jornadas mais curtas às sextas-feiras, com apenas quatro horas, ou tirar um dia de folga a cada duas semanas.
Experimento que mudou a cultura de trabalho
A redução da jornada de trabalho começou a ganhar força na Islândia em 2015, quando um experimento foi conduzido com funcionários públicos do governo e da Câmara Municipal de Reykjavik. O objetivo era avaliar se a diminuição das horas trabalhadas, sem cortes salariais, poderia aumentar a produtividade.
De acordo com um estudo do instituto britânico The Autonomy, publicado em 2021, o experimento foi um “sucesso esmagador”. A produtividade e a qualidade dos serviços se mantiveram ou melhoraram em grande parte dos locais que adotaram a mudança. Além disso, o bem-estar dos funcionários aumentou significativamente, com reduções no estresse e maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
O sucesso do programa impulsionou sindicatos, tanto no setor público quanto no privado, a negociar jornadas mais curtas. Hoje, cerca de 86% dos trabalhadores islandeses têm direito à jornada reduzida.
Impactos de longo prazo
Em outubro de 2025, uma nova análise do The Autonomy detalhou os efeitos prolongados da jornada reduzida no mercado de trabalho islandês. Segundo o relatório, a produtividade do trabalho no país cresceu anualmente 1,5% nos últimos cinco anos, a maior taxa entre os países nórdicos. A economia da Islândia também se manteve estável, com baixas taxas de desemprego e crescimento impulsionado por setores como turismo e energia renovável.
Por outro lado, o estudo apontou desafios. Apesar das conquistas, nem todos os trabalhadores conseguiram reduzir efetivamente suas horas de trabalho. Entre 2021 e 2022, 36% dos empregados islandeses ainda cumpriam jornadas superiores a 41 horas semanais, e 9% trabalhavam mais de 51 horas, principalmente em áreas como hotelaria, pesca e transporte.
Além disso, em alguns locais de trabalho, a redução da jornada exigiu novas contratações, gerando custos extras para empresas que não conseguiram compensar a mudança apenas com ganhos de produtividade.
Lições para o Brasil e outros países
A experiência islandesa demonstra que é possível implementar jornadas mais curtas sem comprometer a produtividade ou a economia. Entretanto, também destaca a importância de adaptar as mudanças às realidades de cada setor.
Para os trabalhadores, a jornada reduzida oferece uma oportunidade única de equilibrar trabalho e vida pessoal, reforçando a ideia de que o bem-estar do empregado pode ser um fator-chave para o sucesso no ambiente de trabalho.