Anvisa dá canetada final e Brasil terá remédio para curar o câncer

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu o registro de um novo quimioterápico intravenoso destinado ao tratamento do adenocarcinoma metastático de pâncreas, um dos tipos mais agressivos da doença.

O medicamento, chamado irinotecano lipossomal peguilado, poderá ser indicado para pacientes adultos que não responderam à gencitabina, terapia usada como primeira linha.

Segundo especialistas, a decisão da Anvisa representa um avanço significativo no cuidado com pacientes que antes tinham poucas opções terapêuticas após falha inicial no tratamento.

A previsão é de que o fármaco esteja disponível no país a partir do segundo semestre de 2025, após a definição de preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

Tratamento com tecnologia avançada

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Foto: Freepik

Desenvolvido pelo laboratório Servier, o novo medicamento será administrado em combinação com 5-fluoruracila (5FU) e leucovorina (LV).

O composto utiliza uma tecnologia de encapsulamento lipossomal peguilado, que permite manter a substância ativa no organismo por mais tempo — até 168 horas, em comparação com as 24 horas da formulação tradicional. Com isso, é possível alcançar o efeito terapêutico desejado com doses menores, reduzindo os efeitos colaterais.

“Estamos diante de uma alternativa robusta para pacientes que não tinham opções eficazes após a gencitabina. Isso pode significar mais tempo de vida e melhor qualidade para essas pessoas”, explica o oncologista clínico Thiago Felismino, do A.C. Camargo Cancer Center.

Estudo clínico comprova eficácia

A autorização da Anvisa teve como base os dados do estudo clínico internacional NAPOLI-1, de fase 3. Nele, os pacientes tratados com a nova combinação apresentaram melhora significativa na sobrevida global: 6,1 meses em média, contra 4,2 meses no grupo controle.

Houve também uma redução de 33% no risco de morte e aumento no tempo livre de progressão da doença — 3,1 meses contra 1,5 meses.

Outro destaque do estudo foi a taxa de controle da doença: 52% no grupo tratado com a nova terapia, frente a 24% entre os que usaram apenas 5FU e LV. Cerca de um quarto dos pacientes conseguiu ultrapassar o marco de um ano de vida, mesmo após a falha do primeiro tratamento.

Cenário da doença no Brasil

O adenocarcinoma de pâncreas representa cerca de 90% dos casos diagnosticados da doença e, no Brasil, figura como o 14º tipo de câncer mais frequente, excluindo os tumores de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), ele é responsável por cerca de 5% das mortes por câncer no país.

Um dos maiores desafios é o diagnóstico tardio: aproximadamente 80% dos pacientes descobrem o tumor já em estágio avançado, quando as possibilidades de cura são menores. “Mesmo nos casos detectados precocemente, a chance de recidiva permanece alta, afetando cerca de 50% dos pacientes”, afirma Felismino.

Disponibilidade global

A nova terapia já conta com aprovação nos Estados Unidos (FDA), na União Europeia (EMA) e está disponível em 47 países. A chegada ao mercado brasileiro depende, agora, da etapa final de precificação. Após essa fase, poderá ser prescrita por médicos oncológicos em todo o país.

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