Aposentadoria pode deixar de existir no Brasil: entenda os riscos

Aposentar-se aos 65 anos pode ter sido uma meta clara para os pais e avós da Geração Z. Para os jovens de hoje, essa ideia soa cada vez mais utópica.

Entre vínculos instáveis, reformas previdenciárias rígidas e a ascensão de um mercado baseado na autonomia profissional, cresce o temor de que o descanso remunerado após décadas de trabalho não passe de uma ilusão.

Segundo especialistas, o atual desenho do mercado e das políticas públicas aponta para um futuro em que muitos brasileiros jamais conseguirão se aposentar da forma como se pensava até poucos anos atrás.

“O número de trabalhadores sem vínculos formais cresce exponencialmente. Sem contribuições regulares ao INSS, o cenário previdenciário torna-se frágil”, alerta a psicóloga e especialista em carreiras Martha Zouain, diretora da Psico Store.

Ela explica que, embora a flexibilização dos contratos atenda às novas demandas da economia, o custo é alto: menos estabilidade, menos proteção social e um rombo iminente nas aposentadorias futuras.

Novo perfil de carreira, nova lógica de aposentadoria

Na visão da especialista em gestão de pessoas Gisélia Freitas, a trajetória profissional atual é marcada por rotatividade constante, empreendedorismo por necessidade e uma relação tênue com o modelo tradicional de previdência.

“Cada vez mais jovens optam por trilhar caminhos fora da carteira assinada. No entanto, a falta de contribuição formal desacumula tempo de serviço e prejudica o acesso aos benefícios”, diz ela.

Aposentadoria como plano individual

Com um sistema cada vez mais rígido e insustentável, os jovens estão assumindo que planejar a velhice será um desafio pessoal, e não mais garantido pelo Estado.

A advogada Nayara Garajau de Mello ressalta que os trabalhadores mais jovens enfrentam regras mais severas do que qualquer geração anterior — e sem mecanismos de transição suaves.

“Quem entra agora no mercado precisa lidar com um sistema frio, que não considera as particularidades de uma carreira que ainda está por começar.”

A advogada previdenciarista Brenda Scarpino reforça o alerta: o risco previdenciário afeta diretamente a juventude. “A tendência é que novas reformas tornem o acesso ainda mais restrito. É fundamental começar um planejamento financeiro estruturado o quanto antes.”

Microaposentadorias: o novo “parar para respirar”

Diante desse panorama, a Geração Z parece estar reformulando o conceito de aposentadoria. A ideia de aguardar até os 65 anos para, só então, descansar, perdeu espaço.

No lugar, surge um movimento crescente de “microaposentadorias”: pausas voluntárias ao longo da vida profissional para focar no bem-estar e em projetos pessoais.

De acordo com o britânico Guy Thornton, fundador da plataforma Practice Aptitude Tests, essa nova abordagem já é visível em diversos países: “A lógica agora é de revezar ciclos de trabalho e descanso, ao invés de acumular décadas para parar apenas uma vez”.

Realidade brasileira: informalidade e reinvenção

O produtor musical Helanderson Guimarães, o Batata Beats, 27 anos, ilustra bem essa mudança de mentalidade. Autônomo há sete anos, ele não acredita que contará com a aposentadoria pública:

“Penso em investir em imóveis ou abrir negócios paralelos. Não dá pra depender do INSS. A cada ano, parece mais distante.”

Um sistema que envelhece rápido

Com a expectativa de vida em alta e a população idosa crescendo aceleradamente — estima-se que 30% dos brasileiros terão mais de 60 anos em 2050 —, o modelo previdenciário atual caminha para um colapso.

Dados do Banco Mundial indicam que, sem reformas profundas, a idade mínima para aposentadoria poderá chegar a 78 anos até 2060.

“A base da pirâmide está cada vez mais estreita, e o topo, mais pesado. O sistema de repartição simples exige ajustes frequentes para sobreviver”, afirma Brenda.

Um novo contrato social

Na prática, as próximas gerações precisarão de algo além da previdência pública: educação financeira desde cedo, investimentos conscientes e um plano de longo prazo. Não se trata apenas de economizar, mas de entender que o “descanso remunerado” dependerá, cada vez mais, do próprio indivíduo.

A era em que o Estado garantia o amparo após décadas de trabalho está chegando ao fim. E com ela, nasce a urgência de repensar o que, afinal, significa parar de trabalhar.

Com informações do portal Tribuna Online.

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