Furacão no Sul do Brasil devastou cidades e matou pessoas
Ao contrário do que ocorre com frequência em países como os Estados Unidos, o Brasil não é atingido por furacões. Essa realidade se explica por uma série de fatores climáticos e oceanográficos que dificultam a formação desses fenômenos tropicais de alta intensidade no litoral brasileiro.
Temperatura da água e dinâmica atmosférica
Um dos principais impeditivos é a temperatura da superfície do mar. Para que um furacão se forme, as águas oceânicas precisam estar acima de 27°C — condição comum no Caribe e no Golfo do México, mas rara na costa do Brasil, onde as temperaturas não costumam passar de 26°C.
Além disso, a formação de furacões exige a combinação de baixa pressão atmosférica, alta umidade e ventos organizados em altitude, elementos que, em conjunto, favorecem o crescimento e a organização de ciclones tropicais.
Segundo profissionais da área, o que predomina no litoral brasileiro são os ciclones extratropicais e subtropicais, que embora possam causar ventos fortes e chuvas intensas, têm características e dinâmica distintas dos furacões.
O caso atípico do Furacão Catarina
A única exceção registrada ocorreu há duas décadas, em 2004, quando o Furacão Catarina surpreendeu especialistas ao se formar no Atlântico Sul. O fenômeno atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deixando um rastro de destruição: 11 mortos, 14 municípios em estado de emergência e mais de 1.500 residências danificadas.
O Catarina teve origem como um ciclone extratropical, a cerca de 1.000 km da costa. À medida que se aproximava do continente, o sistema evoluiu, adquirindo um núcleo quente e uma estrutura com “olho” bem definido, características típicas de furacões. Ao tocar a terra, os ventos chegaram a 150 km/h, marcando um episódio inédito na história meteorológica brasileira.
Por que furacões são frequentes na Flórida?
Em contraste, a região da Flórida, nos Estados Unidos, enfrenta a ameaça de furacões de forma recorrente. Isso se deve à geografia do Golfo do México, onde o mar é raso e aquece rapidamente, e à influência das ondas tropicais vindas da África Ocidental, que se deslocam pelo Atlântico com grande potencial destrutivo.
De acordo com o pesquisador Andrew J. Kruczkiewicz, da Universidade de Columbia, essas condições criam um ambiente ideal para a intensificação de ciclones tropicais. Um exemplo recente foi o furacão Milton, que chegou a ser classificado como categoria 5, com ventos previstos de até 250 km/h.
A cidade de Tampa foi praticamente evacuada, mas o fenômeno perdeu força ao atingir o solo, caindo para a categoria 1.
Mesmo com eventos extremos se tornando mais frequentes globalmente, as condições naturais da costa brasileira continuam pouco favoráveis ao surgimento de furacões, mantendo o país praticamente fora do radar desse tipo de desastre natural.