Saiba como era o atendimento médico no Brasil antes da criação do SUS
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990, marcou uma transformação profunda no acesso à saúde pública no Brasil. Antes disso, o atendimento médico no país era limitado, excludente e, segundo relatos de profissionais da época, altamente discriminatório.
A realidade vivida por milhões de brasileiros antes da implementação do SUS expunha uma divisão social profunda: apenas quem tinha vínculo formal de trabalho ou dinheiro podia recorrer a hospitais e clínicas com algum tipo de assistência.
Saúde pública antes do SUS: quem não pagava, não era atendido
Antes da criação do SUS, os serviços de saúde eram majoritariamente voltados para os contribuintes da previdência social, ou seja, trabalhadores com carteira assinada. Quem não se enquadrava nesse perfil — como desempregados, trabalhadores informais e populações rurais — muitas vezes era deixado de fora do sistema.
De acordo com documentários e falas de profissionais de medicina que atuaram no modelo anterior, era um profundamente seletivo. Atender dependia do status profissional ou da capacidade de pagar por um plano.
Atendimento de emergência e caridade: a única alternativa

Para grande parte da população, o acesso à saúde se dava por meio de ações filantrópicas, instituições religiosas ou campanhas voluntárias. Em muitos casos, as pessoas só conseguiam algum atendimento em situações extremas, como emergências ou em mutirões realizados por organizações não governamentais.
Quem não tinha o chamado Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), criado pelo governo militar, acabava dependendo da boa vontade de algumas instituições. E nem sempre essa ajuda vinha.
SUS mudou a lógica do acesso à saúde no Brasil

Com a criação do SUS, prevista na Constituição de 1988 e regulamentada dois anos depois, o país passou a oferecer atendimento universal e gratuito para todos os cidadãos.
O novo sistema consolidou a saúde como direito de todos e dever do Estado, rompendo com o modelo anterior que associava assistência à contribuição previdenciária.
Hoje, o SUS é responsável por mais de 70% dos atendimentos no país, incluindo vacinação em massa, transplantes, partos e tratamentos de alta complexidade.
Quase quatro décadas depois, especialistas apontam que, apesar dos desafios, o SUS representa uma das maiores conquistas sociais do país. E reforçam que, antes dele, a saúde era um privilégio de poucos.
SUS enfrenta obstáculos para garantir acesso mais ágil à população
Apesar de reconhecerem os avanços e de atuarem diariamente na defesa do SUS, profissionais de saúde também são unânimes ao afirmar: o sistema ainda está distante do cenário ideal.
De acordo com uma pesquisa nacional realizada em 2024 pelo Instituto Locomotiva, com 1.500 entrevistados, os desafios no atendimento continuam afetando diretamente a vida dos brasileiros, especialmente da classe C.
Entre os principais entraves apontados estão:
- 60% dos entrevistados consideram excessiva a espera por consultas com especialistas;
- 56% reclamam da demora para realização de exames;
- 46% mencionam dificuldade para agendar consultas com clínicos gerais.
A percepção sobre o tempo de espera é praticamente unânime: 94% dos entrevistados concordam que é preciso reduzir os prazos para garantir um atendimento mais eficaz.
Mesmo diante das limitações estruturais e da sobrecarga de demandas, o SUS segue sendo uma referência mundial por sua proposta de universalidade e por prestar serviços de forma gratuita a toda a população.
* Com informações de “SUS: uma biografia: lutas e conquistas da sociedade brasileira”