Queda do Império Romano pode ter ocorrido por contaminação de substância

A poluição por chumbo ocorre quando esse metal pesado é liberado no ambiente, frequentemente pela queima de combustíveis fósseis, mas também por outras fontes industriais. Seus impactos são graves, afetando tanto o meio ambiente quanto a saúde humana.

Pesquisas sugerem que essa contaminação pode ter contribuído até mesmo para o colapso de grandes civilizações, como o Império Romano.

Impactos da poluição por chumbo ao longo da história

Cientistas do Desert Research Institute (DRI) investigaram o gelo do Ártico para obter informações sobre os níveis de poluição em períodos históricos.

Esse gelo contém bolhas microscópicas de ar que preservam a composição da atmosfera no momento em que foram formadas, oferecendo pistas valiosas sobre o impacto ambiental e os riscos à saúde humana.

Os dados revelaram um aumento expressivo da poluição por chumbo durante a Pax Romana, um período de prosperidade no Império Romano. Nessa época, a mineração e a fundição de metais se expandiram significativamente na Europa, gerando altos níveis de contaminação atmosférica.

Segundo o pesquisador Joe McConnell, líder do estudo, essa análise é única por combinar registros históricos de poluição no gelo com os impactos potenciais na saúde. “A possibilidade de rastrear esses dados de 2 mil anos atrás é fascinante”, destacou.

O papel da fundição no Império Romano

Durante o Império Romano, a fundição era essencial para extrair metais como ferro, cobre e chumbo. O processo envolvia o uso de grandes fornalhas alimentadas por carvão, onde o calor separava o metal do minério. O chumbo obtido era amplamente utilizado, desde encanamentos até obras de arte e utensílios de cozinha.

A pesquisa aponta que, entre 500 a.C. e 600 d.C., os níveis de poluição por chumbo aumentaram, atingindo seu ápice no final do século II a.C., coincidente com o auge da República Romana. Estima-se que cerca de 500 quilotons de chumbo tenham sido lançados na atmosfera, em grande parte como subproduto da mineração de prata.

Consequências para a saúde dos romanos

Os pesquisadores acreditam que a exposição crônica ao chumbo causou efeitos significativos na saúde da população. Um dos impactos identificados foi o declínio cognitivo, com redução estimada de 2 a 3 pontos no QI de pessoas expostas à poluição.

“Sabemos que o chumbo afeta a saúde de várias maneiras, mas optamos por investigar o impacto no declínio cognitivo por ser algo quantificável”, explicou Nathan Chellman, especialista em hidrologia do DRI e coautor do estudo.

Apesar dos riscos conhecidos, o chumbo era amplamente utilizado pelos romanos em canos, panelas, medicamentos e até brinquedos. Estudos indicam que as crianças do período tinham níveis elevados de chumbo no sangue, atingindo 2,4 microgramas por decilitro, o que poderia reduzir o QI médio da população.

Legado da poluição por chumbo

Os cientistas estimam que até 25% da população mundial à época – cerca de 80 milhões de pessoas – pode ter sido exposta à poluição gerada pelas atividades do Império Romano. A análise sugere que esses níveis de contaminação, combinados com outros fatores, podem ter contribuído para o declínio da civilização romana.

“A redução de 2,5 a 3 pontos no QI pode parecer pequena, mas seus efeitos persistiram por quase dois séculos durante a Pax Romana. Cabe aos historiadores e epidemiologistas avaliar se isso influenciou a queda do império”, concluiu McConnell.

Essa pesquisa reforça o impacto histórico das emissões industriais e seus efeitos duradouros na saúde e no meio ambiente, mostrando que o legado da poluição por chumbo se estende por milênios.

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