Vênus pode ter tido atividade tectônica intensa no passado igual a Terra
Pesquisas recentes revelam que Vênus, conhecido como o “gêmeo malvado” da Terra devido às suas condições extremas, pode ter tido uma atividade tectônica intensa no passado, similar à que formou os primeiros continentes terrestres.
Estudos realizados por uma equipe de cientistas liderada por Fabio Capitanio, da Universidade Monash, na Austrália, sugerem que o planeta pode ter passado por processos geológicos complexos há bilhões de anos, o que desafia a compreensão atual sobre sua história.
Indícios de tectonismo no passado de Vênus
Atualmente, Vênus é um planeta hostil, com temperaturas que ultrapassam os 460ºC e uma pressão de superfície extremamente alta. Diferente da Terra, que possui placas tectônicas ativas, Vênus apresenta uma litosfera estagnada, ou seja, uma única placa com movimentos mínimos.
No entanto, a pesquisa de Capitanio e sua equipe focou em “tesselas”, planaltos encontrados na superfície de Vênus, que lembram os primeiros continentes da Terra.
Esses planaltos sugerem que, há bilhões de anos, Vênus pode ter experimentado uma tectônica ativa, o que surpreendeu os cientistas.
Utilizando modelagem computacional e dados da sonda espacial Magellan, da NASA, que mapeou a superfície do planeta em 1990, os pesquisadores concluíram que essas formações elevadas podem ter se originado de um processo em que a superfície de Vênus se afinou e derreteu, criando áreas elevadas à medida que a rocha derretida subia.
Isso levou à formação de planícies altas cercadas por cinturões dobrados, semelhante ao que ocorreu na Terra primitiva.
Semelhanças entre Vênus e Terra
Outra pesquisa, liderada por cientistas da Universidade Brown, nos EUA, reforça a hipótese de que Vênus e Terra compartilharam processos geológicos semelhantes. Analisando a atmosfera de Vênus, eles descobriram que a abundância de nitrogênio molecular (N2) e dióxido de carbono (CO2), bem como a pressão superficial do planeta, só podem ser explicadas pela ação de placas tectônicas no passado.
Os cientistas inicialmente acreditavam que Vênus sempre teve uma placa tectônica estagnada, sem movimentos suficientes para gerar reações químicas significativas na atmosfera. No entanto, as simulações indicaram que, para que o planeta chegasse ao estado atual, ele deve ter passado por um período de atividade tectônica que durou pelo menos um bilhão de anos.
Essas descobertas sugerem que Vênus pode ter sido tectonicamente ativo no passado, o que pode ter permitido processos geológicos e atmosféricos similares aos que ocorreram na Terra, abrindo novas possibilidades de pesquisa sobre a história do Sistema Solar e a evolução dos planetas rochosos.
As implicações dessas pesquisas são vastas, sugerindo que futuras missões a Vênus, como DAVINCI, VERITAS e EnVision, poderão revelar ainda mais sobre a história geológica do planeta e suas possíveis conexões com a Terra, contribuindo para a compreensão de como os planetas rochosos evoluem e, talvez, abrindo novas perspectivas sobre a possibilidade de vida fora da Terra.